Água da torneira

Confissões Herméticas
3 min readSep 18, 2022

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Gabriela Sakamoto — Praia dos Ingleses

Tarde abençoada na Praia dos Ingleses, em frente à Pousada Thaiji, eu me recolho mirando ao horizonte os meus objetivos. Será a terapia meu fim, ou a arte me possuirá?
Até então, eu venho tentado conciliar as duas e até afirmar ambas. Pois eu observo uma ilha no horizonte e me lembro da garota curiosa que sempre fui, com sede de revolução pela educação livre a todos.
Eu sou uma cientista, mas também artista. Embora tentem afirmar o contrário, eu acredito em quem eu posso ser e afirmo sem pensar duas vezes. E ao olhar para esta praia eu vejo água, o carbono na areia e também a beleza que Deus deu a esse lugar.
No final, vejo que meu caminho sempre será Deus, pois ele se mostra a mim como performance, conhecimento e paz.

Sem dinheiro, pedi uma água da torneira. Para minha surpresa, até um gelinho ganhei! São em pequenos gestos como esse que mostram que ainda há altruísmo em algumas pessoas.
Falo algumas, pois fui destratada no outro dia onde deveria ser acolhida. Porém, hoje isso é só um grão de areia naquela ilha lá longe, enquanto eu bebo minha água da torneira sob o sol de Ingleses e reflito o quão grata sou a Deus pelo dia de hoje.

Seguindo em diante ao sul, parei na Beach House para fazer minhas necessidades e, novamente, pedi uma água da torneira. Mais uma vez, para minha não-espera, recebi uma água mineral.
Ao que vejo, altruísmo em Ingleses é comum. Quem dera fosse assim em todo lugar, mas a mim, é o Espírito Santo mostrando que aqui é o meu lugar. E já não é água da torneira que bebo, é água de beber ungida pelo amor de uma pessoa desconhecida.

Então, seguindo a andar, vejo os barcos de pescador.
Me sento em uma escada de madeira em que as ondas batem contra ela mesma. Queria eu ser esses barcos, para ir e voltar em todas as partes do arquipélago. Imagina uma feminina livre, a utopia de toda soror.
A nossa luta é tão longe quanto a ilha que mal vejo.
A terra firme é Joana d’Arc, as águas são a sociedade, o barco é o evangelho e a ilha é Jesus. Uma hora todas nós conseguiremos esse barco, e ir até à ilha é só o começo.

Voltando da praia, me prostro em um banco do Parque Linear e, linearmente, vou encerrando esta crônica com uma referência do filme As Aventuras de Mark Twain.

“A vida é somente uma visão, um sonho. Nada existe além de você e um espaço vazio. E você não é mais que um pensamento.”

Agora preciso parar de escrever e ler O Retrato de Dorian Gray no meu Kindle sob esse sol que antecede o fim da tarde, algo que nesta praça é de se amar.

— SAMAR

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Blog de @samarporcellis compartilhando poemas, crônicas e contos do fundo de um peito aberto com muita coragem para um mundo literário fechado.

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